A “COISA” ESTÁ FEIA
Nesse dia do trabalhador gostaria muito de ser otimista para desejar-lhe uma boa comemoração, mas ao contrário, acredito que é um momento para refletir sobre nossa realidade, reanimar nossas forças e continuar a marcha na conquista de direitos e na defesa de nossa dignidade de trabalhador. Dirijo essa reflexão aos trabalhadores da categoria da Alimentação.
“A coisa está feia” é uma expressão que ouço constantemente nas conversas formais e informais, especialmente para apontar que a realidade política e social do nosso país não está nada bem. Geralmente, a palavra “coisa” é utilizada para dar nome as “coisas” que ainda não foram “batizadas”, ou seja, que ainda não foram nominadas, ou quando não consigamos compreender a “coisa” (realidade) que está aí. Comumente, quando uma “coisa” não tem nome, ou esse nome não é do nosso conhecimento, apontamos com o dedo para designar “aquilo” ou ao objeto do qual estamos referindo. Mas quando se trata da realidade em si, a “coisa” muda. A realidade é algo que já está aí em suas complexidades de “coisas”. No momento, estamos vivenciando a realidade da pandemia, no qual, torna mais ainda a “coisa feia” para o trabalhador.
Enquanto trabalhador temos intrínseco, em nós, três dimensões: A atividade do Trabalho; a atividade da obra, ou fabricação; e a Atividade da ação, ou política. A atividade do trabalho é o que assegura a sobrevivência e garante a vida da espécie humana. O trabalho que se resume a manutenção da vida se situa na dimensão do animal laborans. A dimensão da atividade da obra, está ligado diretamente ao do homo faber, popularmente conhecido como “fazedor de coisas”. A “obra”, por meio de seu produto, que é o artefato humano, confere longevidade a futilidade da vida mortal e ao caráter efêmero do tempo humano, ou seja, inclui todos os objetos e ferramentas que auxilia o homem a facilitar a vida humana. Por outro lado, se encontra a dimensão da “Ação” do Homo politicós. A “Ação” é o âmbito político em que os homens tomam decisões e reorganiza a vida em sociedade. Portanto, como trabalhadores exercemos diariamente as dimensões do trabalho, da obra e da ação política. Mas por que a “coisa está feia” para os trabalhadores?
Diante do cenário atual de pandemia, o trabalhador tem-se dedicado, ainda mais, na produção de alimentos para manutenção da vida humana em si, contudo, nossa renda econômica se tornou limitada a manutenção da própria vida e de nossos familiares. Quando o salário se resume tão somente a manutenção da vida ele afronta a dignidade humana e a dimensão do Animal laborans é sucumbida.
Os políticos, profissionais e partidários negam a dimensão política do trabalhador. Inibindo-lhes por meio de leis a sua manifestação política e ao mesmo tempo, retira-lhe direitos que garantem a manutenção da vida e o direito a saúde. Além da realidade catastrófica que a pandemia sujeita os trabalhadores da categoria da alimentação, os políticos em favor de empresários, agravam ainda mais esta realidade atendendo tão somente a necessidade econômica, deste modo a vida do trabalhador é objetivada, ou seja, converte em um meio para alcançar o fim econômico.
Há vários motivos que poderíamos elencar nesta reflexão, mas para não delongar, citamos estes exemplos para reafirmar que a “coisa” do jeito que está indo, com a pandemia, sem salários justos que vão além da sobrevivência com perca de direitos e com políticos que governam contra os trabalhadores, ficará mais feia ainda para os trabalhadores. Aproveitando este momento, reafirmamos a dimensão política que constitui o nosso ser, para repensar e construir uma sociedade justa que valorize a pessoa humana. Por fim, apesar de “a coisa está feia” queremos neste dia 1º de Maio parabeniza-los e agradece-los pelo profissionalismo desempenhado no trabalho, produzindo alimentos para a manutenção da vida. Nesta pandemia vocês estão sendo essenciais, o mundo precisa do fruto de vossas mãos.
Cordialmente,
Alex Durães Barbosa